To be continued II

O que fará ela sair dali? Já tentara de quase tudo... O lado de fora estava pior, é certo, mas ficar ali não podia ser a melhor decisão. Lembrou de uma cena do livro Admirável Mundo Novo, em que um dos personagens tenta convencer o outro, aos berros, a sair de onde estava e não consegue. Teve receio de ter gritado demais com ela naqueles dias e talvez a tivesse assustado de verdade. Como aquele personagem de Aldous Huxley . Pensou em chamá-la pelo nome, trazer-lhe algo familiar, mas ele também tinha seu coração apertado pela dúvida, de ser ainda algo para ela, pensou nisto e o coração apertou mais ainda, e, pela segunda vez em poucos dias teve medo, muito medo. Medo que lhe fazia gelar, começava pelas costas dos braços e ia até a ponta dos dedos. Sentiu seu corpo arrepiar, seu estômago estava revirado. Toda situação aconteceu, pensou ele, por sua causa, tinham se esbarrado a pouco tempo e ele já a olhava como se fosse a única. Queria no início apenas chamar atenção para si e para seus problemas e ela nem ligou muito, mas o pouco de atenção bastou para ele se confundir e sentir-se importante para ela. Cada vez que se viam ele notava algo. Sua pinta no braço era algo que lhe atraia. Achou estranho, mas não era apenas uma marca, era um modo de observá-la e saber que aquilo fazia parte da identidade dela. No começo não deu muito crédito ao que podia acontecer no futuro, mas a medida que sentia seu mundo complicado, buscou ajuda. Onde mais, pensou, e a procurou em sua casa e quando ela o viu disse a ele que não podia ser sério e lhe perguntou o que fazia ali de novo. Quando viu que ela não dividiria seu próprio mundo e o mundo dele não a interessava, fechou a porta atrás de si. Na batida da porta a chave se trancou pelo lado de dentro e ele agora tentava de todas as formas entrar, mas ela já não lhe respondia. Estava preocupado em saber como faria para viver sem ela, sem tocá-la, sem ter ninguém para falar seriamente e sua amargura aumentou ainda mais quando chegou a conclusão que ela jamais voltaria para ele. Imaginou-a morta. Nunca mais leria o que ele publicava de tempos em tempos. Era assim que melhor se comunicavam, ele sempre pensando platonicamente e na verdade não sabia se ela absorvia, ou se lia, o que escrevia pensando nela, e ela em seu mundo que ele não tinha a menor idéia como era. Seu coração se acalmou quando lembrou que ela sempre pareceu segura, a não ser logo que se conheceram, quando ela quase desmoronou e ele a amparou, e imaginou que ela estava bem, mas no fundo ele queria muito que ela precisasse dele mais uma vez. Apenas uma vez, seria o bastante, pensou.

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