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Mostrando postagens de fevereiro, 2011

o outro

eu nasci no dia seguinte à morte do meu pai. alguém me disse, no mesmo corredor da nossa casa onde meu pai caiu e não se levantou mais: - agora você é o homenzinho da casa. precisa obedecer sua mãe e ajudar a cuidar de seus irmãozinhos. eu queria ser formiga nesta idade. ficava horas, no fundo do prédio da quadra 406, bloco d, brasília, olhando as formigas trabalhando. achava aconchegante o ninho. eu era o caçula. o que esperavam de mim exatamente? não entendi bem, mas depois. muito tempo depois aquelas duas frases pesaram em mim como luva de concreto em minhas costas. lembro do sol e do cheiro de rosas no enterro do meu pai, e, lembro também de tia célia pegando os pés do meu pai no caixão e puxando ele para baixo. último conforto. meias pretas finas. cheiro de rosas. nunca mandei rosas pra ninguém. apenas flores do campo que descobri não terem cheiro quase nenhum. tomava remédio naquela época, tinha eu seis anos pra sete. remédio grande, de ferro. fingia que engolia e ia para a

estudando

estudando amar amando estudar amar estudando enquanto isto amo

triste

triste por não falar o que quero, ou como quero. triste por não saber voltar. triste por pensar no que fica, e se fica. triste por não saber se falei, ou como falei. triste por pensar que não devia, ou porque não. triste por estar aqui. triste por não estar aqui. triste por ter medo, e por seu medo. triste.

mentiras

mentira. que dirás da mentira? mentiras. que direi das mentiras? mentira!

Reveja domingo, 6 de julho de 2008

Sente isto Ela ouve algo que deve ser importante, algo que lhe chama a atenção, que lhe trás uma sensação boa. Não era demais se parasse para ouvir. Parecia música, poema ou perfume. Aspirou fundo e prendeu-o durante alguns segundos, como que querendo reter partículas em seu ser. Sentiu que estava gravando em seu cérebro algo mais pra poder continuar vivendo. Era um momento bom, sentiu-se flutuando a alguns centímetros do chão e quando pousou já não era sua vida toda que importava, como a poucos instantes, mas aquele momento lhe faria diferença em toda ela. Ela era única, eterna para outros, a pessoa mais importante em toda situação. Soube que o que ela causava em outras pessoas era fruto completamente de si mesma. Via agora os objetos como se estivesse em volta deles e não ao contrário. Esbarrando nos braços dos que andavam com ela, controlou o ímpeto que lhe veio para dizer que ela sentia amor por todos. Estava em um único instante da vida e achava que já havia sentido isto antes,