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j.b. de oliveira

teima mas não aposta. meu avô dizia. acho que foi dele que ouvi isto a primeira vez. e me disse mais, muito mais me ensinou meu avô jb. lembro dele sentado no sofá junto à luz do abajourt, em sua imensa sala de visitas, apartamento gigantesco no centro da cidade, lendo ou estudando. sempre foi assim e no final da vida, já sem poder ler por causa da vista, me chamava para falar de suas várias leituras de dicionários cheios de papéizinhos laranja, com anotações de erros e ausência de palavras que ele apontava com precisão. e, antigamente, lendo os filósofos gregos, em alguns casos no original grego arcaico, me falava da filologia e etimologia das palavras. quando me viu interessado em uma enciclopédia/dicionário, quando eu tinha pouco mais de 14 anos, imediatamente encomendou-o pelo correio. lembro de, ao abri-lo, e ver as bandeiras dos países reproduzidas na contra capa, ter um prazer enorme. ficamos eu e ele adivinhando o nome dos países em uma espécie de competição. meu avô ganhou. e ...

carros pretos

os carros, hoje, são todos pretos. as motoristas, desde ontem, não são ruivas.

ainda

os olhos em minhas costas, imaginação, levaram-me a escrever trezentas cartas, duas poesias, quatro contos curtos. onde conto o gasto do tempo; dezesseis horas no máximo e no mínimo, o choro compulsivo e obsessivo por alguém que queria a mão na nuca, o agachado ao lado. era pouco. mas era o muito que queria, fazia o sentido parecer ser todo o sentido da vida, naquele momento. era. pelos olhos, pela vontade, que pensava ser igual, que foram vistos juntos em bares, em vales, serras, cachoeiras. em camas nunca. não houve tempo, o chão via as roupas e as paredes e móveis receberiam os corpos. e as janelas? fechadas, cortinas abertas; para o ar não entrar, os cheiros não saírem e os olhos, de alguns, verem: o único momento que eram tudo, todos, o mundo, a vida. sair e ter uma vida normal, depois de serem o mesmo ser, parece simples demais. mundano demais. tem que ser diferente. então abro os olhos. imaginar-te é ainda uma vergonha, uma tristeza de amanhã, já hoje. desde ontem. deve-se ao so...

primeira carta

Tento achar algo que possa ser longo o bastante para que estendas a mão e entenda a aspereza de quem quer servir-te Quando acordo, não é em você que penso logo, nem durante o dia ao menos, mas perto do meio dia, sim, eu me lembro de sua claridade. Diferentemente de outros dias, quando lembro de você, algo seu me anima. Sei que seus pensamentos são muitos, e, não quero ser confusão no meu modo de falar. Quem está mais próximo, à sua volta, pode abraçá-la, tocá-la e beijar suas mãozinhas, que imagino, sejam pequenas. Eu não. Isto me faz ficar mais próximo de você do que se realmente estivesse. É esta uma das emoções que tenho hoje. Não ter o que é de outros, de outras, de épocas ou de anos mais recentes que os meus, tem sido a rotina. Sei que sua sede de viver ainda será muita e esta sede não lhe faltará na vida, às vezes. A vida é assim mesmo, depois de vários outonos febris, verões esperançosos, primaveras e invernos tristes ou sombrios, ficamos menos dependentes da vida que esperamos ...

reveja, outubro de 2008

Quarta-feira, 1 de Outubro de 2008 aberto Minhas perguntas não são feitas para mim em todo tempo, já que não quero ou não posso respondê-las agora. Faço perguntas ao vento, aspirando mais sentimentos do que respostas. Pergunto a lua com um olhar de me leva e me deixa ser o motivo para ver. Pergunto ao tempo: quanto tempo e quando? Minhas perguntas são montadas em cima de folhas secas que piso, quando caminho pensando em você. São montadas no barulho do e-mail chegando, da página se abrindo, ou sobre a mensagem enviada. Pergunto à madrugada se haverá uma alvorada ao seu lado, e se tocará uma música qualquer antes, durante e depois, para ficar marcada como relevo na capa do romance que não vivi ao seu lado. Pergunto aqui e ali se o querer do não poder é justo. Se é irrepreensível. Pergunto, às minhas lágrimas, se elas continuarão a causar-me desamparo. Pergunto com letras, como estas que te escrevo, se me querer pode ser assim tão distante, tão distante, tão ausente de algum sinal. Pergu...
E stou mais sério hoje, apesar de ultimamente rir à toa. Meus pensamentos continuam os mesmos. Ou o mesmo. Acho que de tanto imaginar cenas, fins, viagens e momentos, eu não consigo criar mais quase nada que seja ilusório ou fantasioso. Estou triste comigo mesmo por insistir em imaginar algo que não me dá sinal de existir. É como ter fé, a emoção de crer é maior que o fato ocorrido. Gostar de algo é assim; temos e nem notamos sempre que temos, até vivê-los mais intensamente. Se eu fosse um pouco mais adulto ou se outras pessoas fossem, teríamos crescido, ou iríamos crescer, com qualquer coisa que vivessemos. Estou desacreditando em algo que eu creio a muito tempo. Em mim mesmo. É incrível que ainda me venha uma crise de identidade, de saber se tenho um valor, se tenho um destino, se devo mudá-lo etc. Sempre estive assim, apenas adormeci durante um tempo. Tenho tentado ser alguém que seja importante para alguém, em algum momento apenas, mas as horas passam e ninguém tem observado muito ...