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Ouço

Ouça. Eu ouço. Há muito, eu ouço. Acabou. Seu, não o meu. Ouço. O meu. Não o seu.

vazia

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a caixa vazia.                                               razão, teria? a caixa teria!                                               vazão, vazia teria,                                               a caixa.

olhei-me

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passei rápido pela porta passei-a. sequei o corpo e sequer. falando falei ouvir-me. olhei-me e não me vi.  
ai... e ainda, ai.

as feridas

as feridas às vezes gritam; - alma! alma! e minha alma escuta, e pergunta; - quem és? - a ferida, a ferida, a ferida! e espantada minha alma argui; - quais? - as do amor, somos. - mas não tenho tais feridas... (reluta minha alma!) - alma! as feridas! as feridas! - quais? (vence minha alma!)

quando?

quando TUDO dorme, meu SONHO some, minha vida PARA. quando a SUA voz dorme, meu grito INTERNO acorda.

rosas

senti cheiro de rosas hoje e primeira vez em muitos anos, não evitei a memória que este odor me retorna. cheiro de morto. cheiro de posse da minha própria vida. solidão de tristeza sem consolo. sol em dia de enterro. despedida sem esperança de volta. caminhada forçada. abandono. cheiro de definitivo.

luto

na noite, a chuva levantou os cheiros de memórias invisíveis. sobrepôs anos sobre o dia. não houve imagens que fizessem o descanso chegar. em vãos secretos deitou seus olhos. esperou as horas comuns dos trinta dias incomuns. lutou contra o luto falso. (no outro dia estava entre cristais, madrepérolas e sedas) (sentido perfeito, único, novo e prometido) junto mais palavras por sentir?

não era para ser agora

só é ruim quando paro de fazer...e então tenho que pensar... o acordar, pra vida desacelerada, me dói... me coloca extenuado ao lado dela... a vida... e o corpo diz..."a alma não suporta, descrê, enredada fica".

ainda

os olhos em minhas costas, imaginação, levaram-me a escrever trezentas cartas, duas poesias, quatro contos curtos. onde conto o gasto do tempo; dezesseis horas no máximo e no mínimo, o choro compulsivo e obsessivo por alguém que queria a mão na nuca, o agachado ao lado. era pouco. mas era o muito que queria, fazia o sentido parecer ser todo o sentido da vida, naquele momento. era. pelos olhos, pela vontade, que pensava ser igual, que foram vistos juntos em bares, em vales, serras, cachoeiras. em camas nunca. não houve tempo, o chão via as roupas e as paredes e móveis receberiam os corpos. e as janelas? fechadas, cortinas abertas; para o ar não entrar, os cheiros não saírem e os olhos, de alguns, verem: o único momento que eram tudo, todos, o mundo, a vida. sair e ter uma vida normal, depois de serem o mesmo ser, parece simples demais. mundano demais. tem que ser diferente. então abro os olhos. imaginar-te é ainda uma vergonha, uma tristeza de amanhã, já hoje. desde ontem. deve-se ao so...

abulo

perder as esteiras na volta da praia. quando atravessa a avenida é que gritaram para que voltasse para pegá-las. é a volta que o desanimou. não quer voltar! não deseja ver o corpo quase, ou totalmente nu. não suporta que o espere, deitada pela autoria da sua estória. a força não está com ele. está no lado escuro do quarto.

reveja, outubro de 2008

Quarta-feira, 1 de Outubro de 2008 aberto Minhas perguntas não são feitas para mim em todo tempo, já que não quero ou não posso respondê-las agora. Faço perguntas ao vento, aspirando mais sentimentos do que respostas. Pergunto a lua com um olhar de me leva e me deixa ser o motivo para ver. Pergunto ao tempo: quanto tempo e quando? Minhas perguntas são montadas em cima de folhas secas que piso, quando caminho pensando em você. São montadas no barulho do e-mail chegando, da página se abrindo, ou sobre a mensagem enviada. Pergunto à madrugada se haverá uma alvorada ao seu lado, e se tocará uma música qualquer antes, durante e depois, para ficar marcada como relevo na capa do romance que não vivi ao seu lado. Pergunto aqui e ali se o querer do não poder é justo. Se é irrepreensível. Pergunto, às minhas lágrimas, se elas continuarão a causar-me desamparo. Pergunto com letras, como estas que te escrevo, se me querer pode ser assim tão distante, tão distante, tão ausente de algum sinal. Pergu...

estas

o que haverá ou o que há não saberá. são estranhas mostram entranhas mas não se arranha nem a casca. mexem na teia encampam os mortos soltam os corpos pelas metades inteiras. consolam-se em si enquanto estamos aqui esperando o lá estupram nossos nós. passaram sozinhas arrumando casinhas enquanto os ovos esbarravam nos outros. perdidas não cedem não choram mais não pedem amor não falam a própria dor.
S em o tom não há dom que resista. Sem o som não há esperança. Sem a certeza não há. Sem paz não estar. Sem amor, sem alento, sem cor, sem ter. Sem você.

outra coisa

Sou sombra, nuvem cheia e copo com água em cima da pia. Se deixar eu derramo, entorno. Quando encosto na cabeceira dura da cama é que me dá vontade de chorar baixinho. Bem baixinho. Meu cachorro uiva pra lua e eu olho pra ela e ela não me vê. Às vezes penso que ela é burra. Né nada, minha tia Célia dizia. Isto é coisa de lua nova, quanto menos se vê, mais quer. Conheço pessoas que nunca foram na minha casa, que nunca ficaram perplexas ou paradas. O touro é que não gosta delas. Eu tenho uma dorzinha que me incomoda de vez em quando, Quando ela some de todo, eu cutuco ela pra me ver vivo, loquaz, atendido nas minhas perdidas esperanças. Queria ter companhia pra chorar de noite, noite e dia, noite e dia, noite e dia. Chorar sozinho é bom quando não se quer companhia. Eu quero derramar aquele copo d'água inteirinho, mas na boca de quem não escuto a voz, mas sei que já chegou. Reconheço gente de olho fechado, se tiver perfume bom, se tiver uma mão macia ou cabelo de anjo. Desesperei uma...